Localização Cósmica do Céu e do Inferno - Parte X

 

Capítulo IX - Razão Filosófica da Morte de Cristo

Por que morreu Jesus?  Muitas são as respostas que se pretende dar a essa pergunta. Algumas delas, com fundamento em certas passagens bíblicas, parecem satisfazer, outras, com menos base escriturística, não satisfazem.

Do ponto de vista jurídico, analisado friamente, a morte de Jesus não passa de uma monstruosidade.  Um crime canibalesco, com todos os requintes de perversidade. 

A pergunta é: Por que Deus, como Juiz onisciente, condenou um inocente em lugar dos criminosos, com a agravante de que os criminosos tinham todos os defeitos, tendências más e todos os crimes imagináveis, enquanto que o inocente tinha também todas as virtudes imagináveis? E ainda mais, sendo pai da vítima, enquanto os criminosos eram inimigos do juiz, o haviam difamado em público e tinham desprezado os favores do inocente. 

Um Juiz de direito respondeu a essa pergunta dizendo que em justiça comum isso não é possível.  Um juiz não pode julgar a seu próprio filho.  Em segundo lugar, não se pode julgar a um inocente em lugar de outras pessoas.

Juridicamente, a morte de Cristo é um crime do Juiz.  Nas leis mosaicas também o é , pois, segundo deuteronômio 24:16, os pais e filhos não se substituirão no Juízo.  Cada um morrerá pelo seu pecado. 

Vamos, agora, à resposta teológica: 

A Bíblia apresenta como resposta João 3:16: "Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho Unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna".

Justifica esse amor, afirmando que "Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores" (Romanos 5:8).  Mas, tanto as Escrituras como a ética afirmam que se deve por em primeiro lugar, nessa relação de amor ao próximo, os domésticos.  É claro que se devem por em primeiro lugar na escala do amor, os mais próximos de nós.  "Se alguém não cuida dos seus, é pior do que os infiéis".  O amor de Deus, para se fundamentar na justiça, deveria colocar em primeiro lugar o seu próprio Filho,

A argumentação em favor da resposta de que Deus deu a Seu Filho para morrer porque nos amou, não satisfaz à razão, desde que fere flagrantemente a justiça e contraria as normas éticas do próprio amor, que deveria preferir o Filho, o Justo, o Santo.

Vejamos se podemos achar uma maneira de ajustar a morte de Jesus à Justiça em harmonia com o amor, à plena luz da razão, sem recorrer à resposta um tanto infantil de que aceitamos esse fato pela fé, como costumamos responder, como se isso nos bastasse.  Para tanto, temos de investigar lá pela origem do homem, na sua procedência e nos primeiros atos de Deus em relação a ele.  "Disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme à nossa semelhança" (Gênesis 1:26).   Temos aí Deus fazendo um seu semelhante.  Assim, Deus mesmo é o SEMELHANTE do homem.  Examinemos, agora, as relações para com o homem.  Disse Deus: "... da árvore da ciência do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás".  O pecado é a desobediência às ordens do Criador.

O homem desobedeceu.  Desobedeceu e morreu.  Caiu da graça e sentiu-se indigno da amizade do Criador e fugiu, escondendo-se por entre as árvores do bosque.  "Adão! Onde estás?".

O ato desobediência de Adão o separou de Deus.  Ele próprio se condenou à separação, pois, se reconheceu indigno. 

ESPIRITUALMENTE, Adão morreu no dia de sua desobediência, vindo como consequência natural a morte física e a perdição do próprio homem.  A morte física tem todos os sintomas da morte espiritual.  Separa o morto de seus entes queridos.  Separa as substâncias de que se compõe e separa o morador de sua morada.  E, desde que o ato pecaminoso do homem é SEMELHANTE à morte, só a morte corresponde a esse ato. 

Assim, temos a MORTE como remédio para a MORTE.  O SEMELHANTE como remédio ao SEMELHANTE, como no caso da ciência homeopática: "Similia similibus curantur".

Seguindo essa orientação, encontramos o segundo homem aplicando esse remédio ao terceiro; isto é, Caim matando Abel, porque este praticara algum ato que lhe não agradara.  Aplicando-se a morte, como remédio para a morte, (e a morte, quando praticada pelo homem, é pecado; daí a lei "NÃO MATARÁS"), concluímos que o pecado se cura com o pecado.  "... e o salário do pecado é a morte" (Romanos 6:23). 

Na Lei de Moisés, o pecado é sempre curado com a morte de algum animal como oferta pelo pecado, ou em alguns casos, com uma coisa que simbolize o pecado ou o castigo ao pecado. 

Vamos aos exemplos: quando Adão pecou, Deus imolou animais e o cobriu com a pele deles.  Quando os homens aprenderam a cultuar, puseram em prática os sacrifícios de animais.  Quando os filisteus pecaram, tomando para eles a arca de Israel, sofreram como castigo o vexame de uma peste de ratos e uma doença que fazia expelir o intestino.  Como remédio, mandaram junto à arca imagens de ouro dos ratos e de suas doenças - o que foi aceito pelo Senhor, como oferta pelo pecado. 

Quando Israel pecou no deserto, fazendo a vontade de Satanás, a Antiga Serpente, cujo veneno estava influenciando o povo à rebeldia, Deus enviou a praga de Serpentes ardentes.  Temos aqui, as serpentes, como castigo à serpente, ou seja: serpente como remédio contra a serpente. 

O povo se arrependeu, Deus mandou levantar a serpente metálica como remédio aos mordidos pelas serpentes.  O símbolo do pecado, como remédio do pecado.  A chamada "Lei de Talião", desposada por Moisés e tida, por certos moralistas apressados, como amoral, se enquadra perfeitamente dentro deste conceito.  Além do mais, devemos levar em consideração o fato de que a humanidade naquela época ainda estava em plena infância, aprendendo a carta do A.B.C.

O olho por olho e dente por dente, tinha como finalidade precípua, ensinar ao homem a ser comedido em suas ações, uma vez que ele seria pago com a mesma medida com que media para os outros.  A morte sendo paga com a morte, o arranhão com o arranhão, estão aí implícitos não somente os princípios de uma reta justiça, mas o plano de redenção divina que nunca seria por uma frustração à justiça senão pelo cumprimento integral dela. 

Afinal, chegamos a Cristo.  "Como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o filho do HOMEM seja levantado; para que todo aquele que nEle crê não pereça, mas tenha a vida Eterna" (João 3:14-15).

A morte cura a morte.  

O pecado cura o pecado. 

A morte de Jesus, do ponto de vista da justiça comum, foi um crime monstruoso.  O maior pecado praticado debaixo do sol.  Morrendo o homem pelo seu pecado, para sua salvação, seria uma inutilidade, pois, pecador que é, teria de exclamar: "Nós, na verdade com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam" (Lucas 23:41).  Portanto, nada feito, em relação à sua salvação.  Seria apenas, quando muito, uma satisfação à justiça divina.  "A alma que pecar, essa morrerá" (Ezequiel 18:20).  "E todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus" (Romanos 3:23).  Logo, o homem não se poderia curar de seu pecado.  Daí o provérbio: "Médico, cura-te a ti mesmo".  citado ironicamente por Jesus. 

Prevendo isso, Deus na sua presciência, quando fez o homem, fê-lo à sua semelhança, para que quando isso ocorresse, tivesse o homem a quem recorrer.  O semelhante como remédio ao semelhante.  E desde que o semelhante do homem era inocente, justo e santo ("Este nenhum mal fez"); "o qual não cometeu pecado nem na sua boca se achou engano" (I Pedro 2:22), sendo dado como oferta pelo pecado, não somente satisfaria, plenamente à justiça divina, pagando satisfatoriamente o pecado, mas ainda abriria um grande crédito na conta corrente divina, que garantiria a salvação eterna do homem.  Cristo, o semelhante do homem, feito semelhante o pecado, pelo pecado, condenou o pecado na carne (Romanos 8:3) e libertou o homem das consequências de seu pecado, que é a morte. 

Assim concluímos: Cristo morreu pelo homem, porque é o semelhante do homem e só o semelhante do homem poderia salvar o homem. RESGATOU-NOS DA MALDIÇÃO, FAZENDO-SE MALDIÇÃO (Gálatas 3:13).   Como poderíamos entender isso senão pela lei dos semelhantes? "Aquele que não conheceu o pecado se fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (II Coríntios 5:21).  Talvez esteja aí a razão porque não houve um plano de salvação para o Diabo e sua comandita demoníaca.  Eles não foram feitos à semelhança de Deus. 

O sangue era derramado no altar para fazer expiação pelas almas.  Isto, porque a alma da carne é o sangue. 

Assim, mais uma vez se confirma que o semelhante substituiu o semelhante.  A ALMA faz expiação pela ALMA. 

O sangue é a vida ou alma da carne.  Derramado o sangue, expia-se o pecado (Deuteronômio 12:23).  Portanto, se o homem não aceitar esse remédio único para se curar de seu pecado, jamais será salvo.  Não há artifício humano que possa substituir esse remédio único.  Não importa que nome tenha esse artifício.  

Seja culto de homens, de anjos ou de santos ou seja uma filosofia humana. "Quem tem o Filho tem a vida, mas o que não tem o Filho, não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece".

Foi nessa convicção que o apóstolo Pedro afirmou: "E em nenhum outro há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens pelo qual devamos ser salvos" (Atos 4:12); E, Paulo: "Há um só mediador entre Deus e os homens" (I Timóteo 2:5).

Portanto, nenhuma necessidade tem o homem de se perder, visto que Deus fez uma provisão tal.  

Só a incredulidade é capaz de perder o homem, porque o põe no desfiladeiro da morte. 

FIM

Postar um comentário

0 Comentários