Esta matéria foi escrita pelo colaborador da Revista Aruanã, Antônio Olympio, de Ilhéus - BA, enfocando a pesca da tainha - uma modalidade reservada aos mais experientes.
Pescar tainhas de anzol é coisa de especialista ou mera obra do acaso. Salvo situações excepcionalíssimas, com raríssimas pessoas já aconteceu um desses agradáveis "acidentes".
Vale lembrar um caso isolado ocorrido há mais de dez anos numa Gincana Fluminense de Pesca, realizada na praia de Jaconé, no município de Saquarema - RJ. Mais de cem tainhas, pesando cerca de dois quilos em média, foram pescadas pelos competidores, sem que estivessem usando material específico para elas. As iscas eram as mais comumentes usadas em pesca variada de beira de praia - sardinha, maronha, camarão e sarnambi. A época atribuiu-se a ocorrência à hipotese de um ataque de um cardume de botos, que as obrigou a refugiarem-se na parte mais rasa da praia e à fome, que levou-as a atacar qualquer comida ao alcance.
Uma matéria publicada na revista portuguesa Diana, da lavra do halieuta e professor Arsênio Cordeiro, dá conta de uma pescaria de tainhas em Ericeira (Portugal) com isca de sardinhas e boia. Segundo o professor, duas enormes tainhas após muita luta conseguiram safar-se dos anzois e numa terceira tentativa um robalo de cinco quilos e meio "veio à seco" "o robalo era bem menor do que as fujonas". (sic).
Além desses casos, outras situações casuais devem ter ocorrido com alguns pescadores, todavia é conveniente não exagerar as coincidências.
O fato é que pescar tainha com a vara e molinete não é coisa para qualquer "rabo" - é coisa de especialista, repetimos.
Pesca Esportiva da Tainha
Podem haver outros métodos para a pesca esportiva das tainhas, mas os mais clássicos são com o uso de boias especiais, anzois duplos ou garatéias pequenas e fortes e iscas de miolo de pão, limo ou flocos de algodão, (que ao cair na água abre-se em "flor" imitando o pão). Pode-se usar também a sardinha esmagada, que funciona a contento. Há quem pesque com arroz cozido e massas especiais.
Aqui na Bahia não são muitos os especialistas nesse tipo de pesca, mas os que praticam tem seus métodos e macetes. As iscas aqui usadas são exclusivamente o pão amanhecido e a sardinha. O grande macete se constitui na escolha do local, hora e tipo de maré. Os melhores locais são os de águas mais paradas, o que vale dizer nos remansos das águas das bacias (aguas interiores) além dos molhes de proteção dos portos ou cais de cimento. As marés ideais são as águas mortas ou de quadratura, especialmente na véspera, no dia exato e no seguinte às luas de quarto crescente ou minguante. Os horários são os ocorrem nos repontos da vazante e enchente. No fim da vazante e no início da enchente e vice-versa às águas tem muito pouca movimentação, deixando as iscas bem acomodadas nos fundos de lodo ou areia, onde as tainhas normalmente se alimentam. Para obter-se sucesso nessa modalidade de pesca, é conveniente cevar o pesqueiro com o tipo de engodo que vai ser usado como isca e fazer pouco ruído, pois a tainha é muito arisca e se espanta à toa.
Os chicotes mais usados por aqui são semelhantes aos especiais de arraias, com ligeiras modificações. A chumbada corre solta pela guiada central, acoplada a um destorcedor e grampo, sustido por micangas e nós de correr. Desse modo, as pernadas longas repousam no fundo e quando as iscas são visitadas, as tainhas não sentem maior resistencia e as abocanham, carregando-as para só após algum tempo a chumbada se deslocar definitivamente, quando do encontro com as micangas obstaculadas pelos nós de correr. Aí é só aplicar nova ferrada, para garantir a penetração nas beiçolas amplas e trabalhar com cuidado para não rompe-las, pois são frágeis.
Hábitos das Tainhas
Normalmente as tainhas migram anualmente do sul para o norte do Brasil à medida do surgimento dos primeiros ventos frios, que ocorrem a partir de março. O êxodo não é total, mas ocorre em levas sucessivas de maio até julho ou mesmo agosto. Quanto mais para o norte, a migração demora mais. É a época da desova e os cardumes (à medida que as gônadas vão amadurecendo) adentram as lagoas, rios e áreas estuarianas para realizarem a desovar. Cada tainha fêmea chega a desovar mais de três milhões de óvulos, que logo são fecundados pelos machos. Os alevinos ficam nesses locais do nascimento, alimentando-se de microorganismos encontrados na areia ou na lama e após, ganham o mar alto, onde passam boa parte da vida até atingirem a maturidade sexual. Alguns, entretanto, continuam nas bacias dos rios ou mesmo se adaptam definitivamente à água doce. Aqui em Ilhéus, na bacia dos rios Cachoeiras e Santana, vemos normalmente milhares de alevinos nas rasas águas, nos locais de lama e acompanhamos seu crescimento a "olhos nus" diariamente.
Como Depoimento pessoal, vai aqui uma observação. Quando garoto (isto há mais de quarenta anos) morei uns cinco anos numa fazenda em Itaju do Colônia, que hoje é povoado penas por tilápias, apaiaris, lambaris e cascudos, era riquíssimo em variedades convivendo nas mesmas águas, como robalos, traíras, piabanhas, piavas, piaus, e pratibus (tainhas). Salienta-se que tais tainhas chegaram a pesar mais de cinco quilos, e a distância que se encontravam era de mais de 200 quilômetros do mar. O que nos leva a afirmar que tais tainhas inteiramente adaptadas ao regime exclusivo de águas doces e que jamais tiveram contato com a água salgada.
Tipos de Tainha
As primeiras tainhas são as conhecidas pelos nomes científicos de "Mugil Brasiliensis", "Mugil Céhalus", "Mugil lisa", "Mugil curena", vulgarmente chamadas de tainhas, curimã, tainha de rio e parati, respectivamente. Aqui entre nós, costurmamos apelida-las de cangoá, pratibu, saúna e baleeira. A tainha propriamente dita e a curimã chegam a pesar dez quilos excepcionalmente. A tainha baleeira é de tamanho pequeno, com cheiro mais ativoe mais oleosa que as demais constituindo-se por isso mesmo, em excelente iscas para grandes predadores como arraia, cações, meros "camapus", tarpons (camarupis) etc ...Entre todas as tainhas, a mais saborosa é a que chamamos de cangoá. Tal tainha não ultrapassa os quatro quilos e tem os olhos cor de fogo (amarelo avermelhado).
Reescrito por Eduardo Bastos
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