Do alto dos meus 40 anos posso afirmar que passei boa parte deles pescando. Pesca de beira, em quase todas as cidades oceanicas do nosso estado. neste período, pude não só presenciar como vivenciar fatos que vão do trágico ao pitoresco. E que, a partir deste número, estarei narrando para os amigos de "pescando". Espero, que eles sejam atraentes o suficiente para "ferra-los", caro leitor. Assim estarei garantindo parceiros para as próximas aventuras. Então, aí vai o meu primeiro arremeso.
Por Antônio Mário
O Olho do Cão
Esta aconteceu comigo. Numa manhã de mar "flat" na praia de Itacoatiara, em Niterói. Nestas condições, os surfistas não aparecem, deixando o "point" inteirinho pra nós, pescadores.
Neste dia, eu e meu pai, um tio e um primo em menos de duas horas - e, utilizando apenas isca de camarão - já tínhamos sido premiados com meia dúzia de diferentes tipos de peixe: papa-terra, cocoroca, roncador, pampo, carapicu e marimbá. Até que, como quase sempre acontece, os peixes começaram a rarear.
Coloquei então a vara na espera e fui na direção do meu tio, que pescava a uns 20 metros de mim atrás de uns anzóis menores.
De repente, Toninho berra: "Mário! Olha lá ... a tua vara!" Faço a meia-volta mais rápida que alguém já foi capaz de fazer, a tempo de ainda ver o bambu envergado. A ponta a menos de um metro do chão. Arranco a vara da espera e dou o tranco. Nada acontece.
Chateado pelo bicho não ter ferrado, recolho a linha. E quando o chicote bate na areia, ninguém consegue acreditar no que vê.
Ali, logo no primeiro anzol, esta fisgado um grande e reluzente ... olho.
Não um olho de cão, mas um globo ocular inteiro, quase do tamanho de uma bola de pingue pongue.
Comparando com os olhos dos peixes que tinhamos pego, concluímos que o danado devia ter, no mínimo, uns três quilos.
Provalvemente, seu olho foi arrancado no momento em que dei o tranco na vara.
O certo é que, mais triste do que não tê-lo trazido, foi saber que, a partir daquele infortúnio, ele estava condenado a nadar em círculos até o último dos seus dias.
Transcrito da Revista Aruanã Ano III - Número 09
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